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Autismo. Quem deve se adaptar: eles ou nós?

Publicado em 31/03/2016 20:04:49

02 de abril é comemorado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. O autismo é um assunto que vem sendo abordado cada vez mais na mídia. As pesquisas ainda estão em fase de desenvolvimento, as respostas para tantas questões ligadas ao tema, ainda não são precisas. O Portal da Facema conversou com a Profª Msc. Francidalma Soares Carvalho Filha, uma das grandes pesquisadoras sobre o tema, esclareceu algumas questões ligadas ao autismo.

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Portal: Profª Msc. Francidalma Soares, o que é autismo?

Profª Msc. Francidalma Soares – Hoje o autismo é tratado como Transtorno do Espectro do Autismo – TEA. Antes se fazia uma série de diferenciações, Síndrome de Asperger, autismo leve, infantil, transtorno global do desenvolvimento entre outras especificações, atualmente o Manual do diagnóstico de Saúde Mental – DSM já em sua quinta versão, juntou todos esses transtorno e hoje é chamado Transtorno do Espectro do Autismo, facilitando o diagnóstico para os psiquiatras, já que são alterações, transtornos comportamentais, onde existem semelhanças entre si, e se torna mais fácil para tratar.

Portal: Profª Msc. Francidalma Soares, como o autismo é diagnosticado?

Profª Msc. Francidalma Soares – O diagnóstico é complexo, feito com a participação de diversos profissionais de outras áreas envolvidas, como terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e psicólogo, todos estes profissionais, não dão o diagnóstico, mas eles fecham a característica. A conclusão é determinada por um neuropediatra e um psiquiatra, eles que fecham o diagnóstico. É importante destacar que existem diversas alterações no comportamento daquela pessoa que vive no TEA, mas as três áreas principais que são atingidas, são: a área da comunicação, onde eles têm muita dificuldade de se comunicar, a área da interação social e também o comportamental, onde apresentam um comportamento estereotipado, repetitivo, com apego à rotina.

Portal: Profª Msc. Francidalma Soares, como os pais podem saber se o seu filho(a) é autista?

Profª Msc. Francidalma Soares – O grande problema é que não existe um exame, como por exemplo, o marcador biológico do Down.  A criança nasce aparentemente sem alteração “típica”, o que seria o normal, como qualquer outra. O diferencial é que é uma criança, que em geral, tem dificuldade em olhar nos olhos. Então a mãe quando amamenta vai perceber que o filho não olha nos olhos dela, todo bebê amamentando toca na mama da mãe, toca nela e faz carinho na mãe. Uma criança que tem TEA não toca a mãe e nem olha nos olhos. Com a idade de 2 a 3 anos, a mãe vai perceber outras alterações no comportamento, interação social, onde a criança tem muita dificuldade de lidar com os outros e dependendo do grau, ela vai ter dificuldades imensas de se locomover, de falar, de ir à escola.

Portal: Profª Msc. Francidalma Soares, as crianças com autismo têm atraso mental?

Profª Msc. Francidalma Soares – Às vezes sim. Hoje o TEA é dividido em três grupos no sentindo de classificação: graus leve, moderado e grave. Uma criança com TEA grave vai ter dificuldades de compreensão, de coisas de mundo, vai ser extremamente agressiva, mas esse grau não é comum, as crianças que vivem no TEA de modo geral tem uma inteligência bem exarcebada, acima da média. O cérebro humano é muito ligado a repetições, então se você repetir um texto, você vai decorar o texto inteiro, então a criança que vive no TEA, como ela tem apego a rotina, ele repete tanto, que ela fica exímia naquilo que ela faz.

Portal: Profª Msc. Francidalma Soares, a questão da inclusão escolar e criança autista. Como funciona o aprendizado de uma criança autista na escola?

Profª Msc. Francidalma Soares – Tem várias leis que tratam do direito da pessoa com TEA, inclusive, aqui no Brasil, nós temos duas leis. A Lei 12.764 de 27 de dezembro de 2012, que estabelece a política nacional de proteção aos direitos da pessoa com TEA. E temos também uma lei mais recente de 2015, Lei 13.146 de 6 de  julho de 2015, que institui a inclusão da pessoa com deficiência, que chama Estatuto da Pessoa com Deficiência, que engloba todas as deficiências incluindo o TEA. O que temos a dizer sobre o assunto, é que não é fácil incluir uma criança com TEA. As pessoas com TEA, elas precisam de um “acompanhante terapêutico”, além do professor teria que ter uma outra pessoa não para ensinar especificamente o autista, mas para ficar chamando a atenção dele, porque uma pessoa com TEA ela não consegue se concentrar.

Portal: Profª Msc. Francidalma Soares,  como uma criança autista se relaciona com os seus pais?

Profª Msc. Francidalma Soares – Dentre as pesquisas que eu tenho feito com os pais, e estou desenvolvendo agora uma, onde estou trabalhando o cotidiano dos pais, o dia-a-dia, como é lidar com uma pessoa que vive no TEA. De modo geral, eles sempre falam nas pesquisas, que é muito difícil lidar com o TEA. Alguns pais não conseguem lidar bem com o assunto, eles têm muita dificuldade de se relacionar, alguns inclusive não dão continuidade ao tratamento que o psiquiátrico, o psicólogo, o terapeuta ocupacional ou fisioterapeuta indica, e isso devido a várias questões, e um deles é o financeiro. São tratamentos longos, é para vida toda, tratamentos caros, e isso faz com que os pais tenham essa dificuldade imensa de lidar com os filhos, enfim, de fato não é fácil. 

Portal: Profª Msc. Francidalma Soares, como a Sra. avalia o preconceito com as pessoas com autismo?

Profª Msc. Francidalma Soares – É demais. Nas salas de aulas as crianças que convivem com eles não têm, porque as crianças não tem maldade, mas tem pais que não querem que os filhos deles estudem com um “louco” que pode bater ou morder o filho deles. Então o preconceito não vem das crianças, e sim dos adultos. Na rua é pior ainda, e isso é comprovado, quando uma mãe leva o filho autista para uma lanchonete e ele começa a fazer barulho, todo mundo se incomoda, porque as outras pessoas não querem aquela pessoa do lado, porque eles têm comportamentos inadequados, eles não conseguem equilibrar as emoções. Então as pessoas em geral não querem e não sabem conviver com o diferente, querem sempre o igual, o dito “normal”.

Portal: Profª Msc. Francidalma Soares, esse trabalho de pesquisa que vem sendo feito pela Sra., como destacaria a importância do mesmo para o grupo Educa que tanto lhe apoia?

Profª Msc. Francidalma Soares – Eu comecei a pesquisar sobre o TEA e o grupo Educa me acolheu e me apoiou nesse trabalho, nas pesquisas e trabalhos desenvolvidos na Facema, bem como nas semanas pedagógicas da Facema e do Cefa,. Tenho uma cartilha sobre o TEA que será publicada, trabalhos apresentados e premiados em congresso, estou fazendo já a quarta pesquisa sobre o TEA, todos com participação de alunos da Facema, então eu encontro na Facema apoio, para esses trabalhos que venho desenvolvendo, já tenho um caminho bem galgado e trabalhado sobre isso, e o grupo Educa tem me ajudado e auxiliado a desenvolver essas pesquisas. Nesse contexto todo, percebo que o grupo Educa é socialmente presente, e essa é uma causa nobre. No Brasil existem mais de dois milhões de famílias de pessoas que vivem no TEA, então não é pouco, e eu penso que o grupo Educa tem se feito presente, tem sido realmente responsável em participar disso, em querer fazer parte dessa conscientização do TEA, porque na verdade, o que é preciso é conhecimento. Esse preconceito que as pessoas têm é porque falta conhecimento, quando as pessoas entenderem mais, serão mais compreensivas à causa. E a minha intenção é essa, disseminar conhecimentos, socializar e fazer com que as pessoas compreendam mais sobre o TEA,  para que elas percam o preconceito, e perdendo o preconceito ajuda a mãe  e o pai em casa que sofre sem saber o que fazer para cuidar do seu próprio filho. Enfim, a mensagem que deixo, é que as pessoas se abram mais, percam esse preconceito todo, que elas possam reagir de uma forma mais acolhedora tanto para as famílias quanto para as pessoas que vivem no TEA. Estudem, leiam sobre o assunto, para realmente conviver melhor com as pessoas que vivem no TEA.”  


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