A V Semana Pedagógica do UniFacema, recentemente ocorrida nesta IES, suscitou debates quanto a renovação das práticas docentes, por meio da abordagem do uso das metodologias ativas, a fim de tornar as aulas mais dinâmicas, interativas e consequentemente, promotoras de uma aprendizagem mais condizente com as necessidades atuais de formação dos alunos. Ao mesmo tempo, o evento permitiu discussões quanto a filosofia educacional de cada professor, o que o motiva a dar aulas e o que deve ser sua causa e próposito no ofício de ensinar.
Neste enlevo, tivemos a participação do Prof. Dr. Marcus Vinícius Câmara Brasileiro, que colaborou no evento por meio de uma Webinar, falando de sua filosofia educacional. Como você irá notar, nas linhas que se seguem, será apresentada a história de um vitorioso, alguém que não arregou aos laços da própria sorte, e que fez da educação, seu lar, sua causa de existência e felicidade.
Boa Leitura!
Como me vejo como educador? Por Prof. Dr. Marcus Vinícius Câmara Brasileiro
Professor Associado de Literatura/Cultura Brasileira
Utah State University
Gostaria de iniciar a exposição da minha filosofia educacional com uma pequena nota biográfica. Acho que isso vai contextualizar minha relação com a educação e informar a forma como entendo meu papel como educador nas Humanidades.
Comecei minha carreira como professor no Brasil, aos 22 anos. Trabalho em um ambiente educacional há quase trinta anos. Só começo por dizer isso para destacar que, mesmo depois de todos esses anos, ainda encontro paixão e significado no que faço como educador.
No Brasil, tive o privilégio de começar a trabalhar, ainda no Piauí (no Instituto Dom Barreto) com crianças, alunos de 10/11 anos. Nesse nível, você desenvolve uma habilidade muito importante como professor: os alunos aprenderão se estiverem interessados no assunto e, mais importante ainda, se você encontrar maneiras de tornar o assunto relevante para eles. Isso significa que o desenvolvimento de estratégias pedagógicas é essencial. Principalmente hoje, confiar apenas na autoridade do professor é uma estratégia que o levará apenas a meio caminho em um processo de aprendizagem eficaz. Mas meu tempo com as crianças se foi há muito, e sou grato por isso.
Depois de algum tempo, comecei a acreditar que não tinha energia física para correr com elas (crianças) e acompanhar o nível de energia que elas me exigiam e, por outro aspecto, foi bom para eu avançar na estrutura educacional. Então, fui trabalhar com “crianças” universitárias.
Trabalhei em três universidades no Brasil, uma pública e duas privadas: Universidade Federal do Piauí, Pontíficia Universidade Católica (PUC-SP) e Universidade Ibirapuera (em São Paulo). Embora fossem instituições muito distintas, todas me forneceram a experiência para trabalhar com um grupo de alunos completamente diferente. Só depois do mestrado é que me mudei para os Estados Unidos.
Fui para a Universidade de Minnesota fazer o doutorado e tive uma das experiências educacionais mais marcantes: ensinar português como segunda língua. Toda a minha experiência foi desenvolvida para ensinar português para falantes nativos e alguns dos objetivos desse tipo de ensino são completamente diferentes de ensinar português como segunda língua. Novamente, tive que me reconfigurar para estar na sala de aula e um novo conjunto de habilidades teve que ser desenvolvido.
Compreendo os desafios de quem ensina Português e/ou Cultura Brasileira em duas dimensões: aquisição de uma língua estrangeira nas quatro competências (ouvir, ler, escrever, falar); e a imersão nos antecedentes culturais e sócio-históricos que moldaram as pessoas que falam essa língua, a fim de promover uma compreensão mais profunda da diversidade da condição humana. Para mim, é muito importante criar um ambiente equilibrado entre essas duas dimensões, sem perder de vista o fato de que a implementação de um currículo exige um profundo interesse na forma como cada grupo específico de alunos aprende melhor.
Quando penso no papel do ensino superior e na importância das Humanidades, neste contexto, gostaria de acreditar que esta é uma parte essencial da missão de qualquer Universidade respeitável. Nesse sentido, meu objetivo aqui na Utah State University, onde atuo há mais de dez anos, é transformar a Literatura Brasileira em uma disciplina que ajudará meus alunos a continuar a aprimorar suas habilidades linguísticas em uma segunda língua (muito importante em um mundo cada vez mais globalizado), e a desenvolver habilidades de pensamento crítico que lhes permitirão ser mais sensíveis às diferenças culturais e se tornarem bons cidadãos em uma sociedade democrática.
Acho que cada contexto educacional é único e as soluções para os desafios devem ser encontradas a partir das realidades locais. Entretanto, a condição humana nos coloca questões que são universais também. Nesse sentido, podemos aprender com as experiências educacionais de outros países, se fizermos as devidas adaptações. Em um mundo cada vez mais globalizado, não é mais possível nenhum tipo de isolacionismo nacionalista. As soluções para problemas globais exigem conhecimento e troca de experiências que tenham também uma amplitude global.